No coração de Valparaíso de Goiás, um movimento cultural floresceu onde antes parecia não haver mais espaço. Chicão MC, um dos Pioneiros das batalhas de rima e projetos de Hip Hop na região, transformou ruas em palcos e fez da cultura um instrumento de resistência, união e transformação social. Entre conversas descontraídas e memórias fortes, Chicão MC abre o jogo sobre sua trajetória, sua missão e o impacto do Hip Hop em nossa quebrada e além dela.
1. Das Ruas para o Movimento
Ada Miniane: “Chicão, você disse uma vez que “não tínhamos muita cultura em Valparaíso de Goiás até que, em 2012, começamos as batalhas de MCs”. Como foi esse começo? O que te motivou a propor algo tão novo para a comunidade?
“Chicão MC: “Foi um corre louco, mano. A gente não tinha muita cultura rolando ali, o negócio era meio limitado, parecia que não tinha espaço pra gente sonhar. Em 2012, comecei a propor essa ideia de fazer batalha de MCs… e não é que deu certo? Viramos campeões do entorno, a galera abraçou, a Praça Nossa virou nosso ponto. Ver o Sanduba e tantos outros envolvidos foi mágico. Conseguimos trazer uma movimentação cultural e social gigante pra quebrada, e isso mudou tudo pra gente.”

2. Hip Hop Como Ferramenta de Educação
Ada Miniane: Você também comentou sobre o projeto “Hip Hop nas Escolas”. O que te levou a levar a cultura urbana para dentro da educação?
Chicão MC: “Eu sempre acreditei que o Hip Hop é mais que música e rima, é ferramenta de transformação. Rodamos o entorno e até Goiás inteiro com esse projeto. Quando você vê uma criança rimando pela primeira vez, falando de sonhos e de luta, você entende que é ali que nasce uma nova história. Fazer Hip Hop nas escolas foi, sem dúvida, um dos projetos mais emocionantes que participei.”
3. Treze Anos de Carreira e Vários EPs
Ada Miniane: “Você já lançou cerca de cinco EPs e seu último projeto aborda questões sociais fortes. Como você traduz a realidade da quebrada para sua música?”
Chicão MC: “Minha rima é um grito da nossa vivência. Esse último EP fala das nossas lutas, de como precisamos nos amar mais, de como resistir. Eu não canto só pra entreter, eu canto pra que cada verso seja uma semente. A quebrada é dura, mas também é cheia de amor, e é isso que eu tento levar pras faixas.”
4. Pioneirismo e Legado
Ada Miniane: “Você é um dos criadores da ‘Praça Nossa’ e também participou da ‘Taça de Sangue’. Como é olhar pra trás e perceber que você ajudou a construir um movimento inteiro?
“Chicão MC: “É surreal. Às vezes eu paro e penso: ‘Caraca, eu sou mesmo um dos pioneiros do hip hop aqui no entorno.’ Ver o corre de todo mundo, os eventos, as batalhas, a molecada nova chegando… Isso dá um orgulho danado. Não é sobre mim, é sobre nós. É sobre mostrar que da quebrada pode nascer coisa gigante.”
5. O Futuro da Cena
Ada Miniane: “O que ainda falta conquistar? Quais são os próximos passos do Chicão MC e do movimento que você ajudou a criar?
Chicão MC: “Falta muita coisa ainda, mas eu acredito na força do coletivo. Quero ver mais espaços culturais, mais apoio pra molecada. Tô trabalhando em novos sons e projetos pra fortalecer a cena. E quero continuar fazendo o que a gente sempre fez: mostrar que a cultura salva, que ela dá voz pra quem ninguém ouvia.”
6. Sobre família e raízes
Ada Miniane: “Chicão, olhando pra trás — o que sua família ensinou de mais importante pra você, seja nos momentos bons ou ruins, que te ajudou a construir sua identidade como artista e como pessoa?”
Chicão MC: Minha mãe ouvia funk, sertanejo, pagode, eu me lembro que ela tinha um som, aqueles antigos, então ela colocava música no volume máximo e dançava com a gente na sala de casa. Acredito que isso me motivou, de alguma forma, pra eu querer me tornar um artista, só não imaginava que eu seria um MC, de forma pessoal, o incentivo sempre foi trabalhar, trabalhar muito pra alcançar o que queríamos, nada nunca foi fácil pra nós, mas o fato sempre foi, não desistir nunca.
7. Sobre amor, relacionamentos e apoio
Ada Miniane: “Em meio à correria de batalhas, gravações e projetos culturais, onde você encontra apoio emocional? Como seus relacionamentos pessoais — seja amorosos, amizades de infância ou colegas de cena — contribuíram pra sua força nos momentos de dificuldade?””Ah, MC Chicão está solteiro?”
Chicão MC: “Então, sou fã dos meus amigos, que não me deixam desistir, inclusive a maioria deles são artistas incríveis, aprendo muito com eles, pois me dão força pra acreditar em mim e no meu trabalho…Estou solteiro, a última pessoa que tive uma relação real foi a mãe da minha filha, ainda trocamos ideias sobre trabalho, peço conselhos, temos um troca, leal, somos amigos, além de sermos pais, mas ela foi minha última conexão real, agora sigo solteiro, cuidando de mim.
8. Sobre quem você é, além do artista
Ada Miniane: “Quem é Chicão quando as músicas, os palcos e os microfones estão desligados? Quais sonhos ou atividades te definem que talvez o público não veja — algo que te conecta à essência da sua vida, fora da arte?”
Chicão MC: ” Sou pai, cozinheiro, eu treino, assisto uns animes kkk, filmes, gosto de estar só, de tirar esse tempo comigo mesmo, mas curto muito estar com meus filhos, brincar, sair pra tomar sorvete, curtir um restaurante, jogar um Fut… Sou muito protetor, amo estar com meus amigos, trocar ideia, ir pra algum barzinho e resenhar.”Chicão MC não é apenas um rapper — ele é um construtor de pontes. Sua história prova que o Hip Hop é mais que rima: é transformação, é resistência, é amor à comunidade. A quebrada agora transborda cultura, e muito disso, é porque um dia alguém acreditou que uma batalha de MCs podia mudar tudo. A arte salva.