Valparaíso de Goiás foi palco de uma das maiores festas populares da região: o aguardado Arraiá de Valparaíso 2025. O município vestiu-se de festa entre os dias 18 e 22 de junho, com a realização do tão aguardado Arraiá — uma das maiores celebrações juninas do Entorno do Distrito Federal. Foram cinco noites de alegria pulsante e ritmos contagiantes de forma totalmente gratuita, onde a população pôde aproveitar de uma imponente organização e shows com grandes artistas.
A expectativa era alta. Afinal, festa junina é sinônimo de cultura, tradição, memória afetiva e pertencimento. No entanto, apesar da estrutura grandiosa, a essência do São João tradicional ficou em segundo plano.
Um “Arraiá” Sem Alma Junina?
Embora o evento tenha sido anunciado como uma grande celebração da cultura popular, muitos participantes sentiram falta do que realmente faz um arraiá ser um arraiá. Elementos indispensáveis para qualquer festa junina quase não estiveram presentes.
A programação musical foi dominada por shows de grandes artistas nacionais, com estilos que, embora populares, não dialogavam com a tradição nordestina ou caipira que marca o mês de junho no Brasil. A área destinada às quadrilhas — expressão máxima da festa junina — foi tímida, limitada e com pouca visibilidade dentro da estrutura do evento.
“Ficou uma festa bonita, mas sem alma junina. Faltou o cheiro do milho, o som do forró, o choro da sanfona, a força da tradição”.
Nesse cenário, iniciativas como o Arraiá do Tio Pedro e o Arraiá da Paróquia São José Operário continuam sendo, com justiça, reconhecidas como os verdadeiros e maiores arraiás de Valparaíso. Com bem menos recursos, esses eventos mantêm viva a tradição, o espírito comunitário e a riqueza simbólica que fazem do São João uma das festas mais queridas do povo brasileiro e de nosso município. Eles provam que não é o tamanho da estrutura que define a grandeza de um arraiá — mas sim sua alma, sua verdade e sua conexão com o povo.
Investimento Alto, Espaço Pequeno para os Nossos.
Um dos pontos mais criticados foi o alto investimento em atrações de fora, enquanto os artistas locais, receberam espaço insignificante na programação oficial. Muitos talentos da cidade e da região sequer foram convidados a participar, o que gerou insatisfação entre músicos, quadrilheiros e agentes culturais.
“É frustrante ver tanto dinheiro saindo para artistas de fora enquanto quem constrói cultura o ano inteiro aqui em Valparaíso é deixado de lado”.
Além disso, a ausência de critérios de contratação e fontes de financiamento levanta questionamentos importantes sobre transparência e prioridades na gestão cultural do município.
Grande nas Redes, Controverso na Vivência.
O evento foi amplamente divulgado e teve forte repercussão nas redes sociais, com vídeos, fotos e postagens destacando a estrutura, iluminação e público presente. Contudo, a estética das redes não escondeu a sensação de desconexão com a cultura tradicional que deveria ser o coração da festa.
Em entrevistas feitas por comunicadores locais e vídeos circulando na internet, a crítica à descaracterização da festa foi recorrente. O público sentiu que a festa estava mais próxima de um grande show de palco do que de uma celebração junina autêntica.
Um Chamado à Reconstrução Cultural.
O Arraiá de Valparaíso 2025 mostrou que a cidade tem potencial para grandes eventos — mas também revelou um vazio simbólico que não pode ser ignorado. A cultura popular não pode ser coadjuvante em seu próprio palco. O que se espera para os próximos anos é uma festa que não apenas impressione pelo tamanho, mas que também emocione pela representatividade, identidade e memória.
Porque um verdadeiro arraiá não é feito só de palco e luzes. Ele é feito da herança cultural que une gerações. Em tempos de crises e polarizações, eventos como esse reafirmam que a cultura é ponte, é lembrança e é força que une o povo.
Embora o “Arraiá” oficial em homenagem ao aniversário da cidade tenha se destacado pelo porte e pela estrutura grandiosa, o que se viu foi uma celebração que se aproximou mais de um festival de shows convencionais do que de uma autêntica festa junina.
A ausência desses elementos tradicionais, fez com que o evento perdesse parte de sua identidade, como música típica, forró, xote, baião, catira, repente, moda de viola, cordel, arrasta-pé, quadrilha e marchinhas juninas, acompanhados de sanfona, zabumba, triângulo. Músicos ao vivo com repertório tradicional (Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro).
Quadrilhas juninas e suas presentações coreografadas com casais, trajes caipiras e enredos.
Narração animada do “marcador”: “Olha a chuva!”, “É mentira!”, “Olha o túnel!”.
Competição ou exibição, com premiação, já que essas quadrilhas trabalham o ano todo, com muito empenho, justamente paracessas apresentações sazonais. Decoração típica com andeirolas coloridas, balões de papel, chapéus de palha, fogueira, etc. Brincadeiras e jogos típicos como pescaria, corrida de saco, pau de sebo, jogo da argola, correio elegante entre outros.
Barracas com fachada de madeira ou tecido rústico simulando uma vila do interior.
Comidas e bebidas típicas como canjica, pamonha, milho cozido/assado, curau, bolo de milho, bolo de fubá, arroz-doce, cocada, pé-de-moleque.
Quentão, vinho quente e outras bebidas típicas.
Barracas personalizadas (barraca do beijo, da pescaria, da argola, etc.). E claro, religiosidade e devoção popular com referência aos santos juninos: Santo Antônio (13/06), São João (24/06) e São Pedro (29/06).
Vestimenta típica caipira.
E por último mas, mais importante, a fogueira, símbolo central da festa, representando união e tradição.
Que em 2026, Valparaíso reacenda a chama da cultura popular nordestina celebrando São João com mais alma, raízes e protagonismo local.

Uma resposta
Um verdadeiro descaso… Uma grande falta de respeito com os artistas locais….
Desmerecimento total…..